— Ô, doutor… desculpa aí a ausência esses dias, viu? Mandei mensagem, avisei que não ia dar pra vir, mas entendo se o senhor ficou magoado. Faltar à terapia de bar é quase um crime contra a saúde mental etílica.

— Perdi umas três sessões, o que me custou, pelas minhas contas, uns seis chopes, fora o acompanhamento psicológico com espuma cremosa e copo suado. Um prejuízo duplo: pro fígado e pro inconsciente.

— Eu tava gripado, doutor. Mas não uma gripe qualquer. Era uma gripe com sintoma de fim do mundo. Febre, calafrio, tosse… teve um momento que pensei: “É agora. Chegou a gripe aviária.”

— Aí me bateu um pânico que só Freud explica — ou não. Sonhei com uma galinha gigante, do tamanho da torre da TV, voando desengonçada e caindo bem em cima do Congresso Nacional. Um símbolo, né? Do medo e do desejo. O medo de morrer e o desejo de ver o Congresso esmagado por um frango mutante.

— Desde então, não confio mais em ovos, doutor. Tem um na geladeira me olhando torto. A gema parece que pisca pra mim. E não é charme, é ameaça. Eu sei. Mas talvez isso seja só… medo imaginário, né?

— Porque veja: o senhor sabia que os ingleses estão com medo da China e da Rússia? Segundo um tal de Tim Davie, da BBC, essas potências estariam ameaçando a civilização ocidental. Um pânico digno de galinheiro.

— Mas cá entre nós, doutor: se a democracia deles balança por causa de um panda no TikTok, talvez o problema não esteja no panda…

— E tem também os americanos, sempre com medo dos ETs. Já reparou nisso, doutor? Eles vivem em guerra contra o que não conhecem. O medo deles é verde, com olhos grandes e puxados. Se for de Marte ou de Xangai, tanto faz. O importante é ser “diferente”.

— Tem algo profundamente psicanalítico nisso: o medo do Outro. Da castração intergaláctica.

— Mas, voltando pro Brasil, doutor… e o PT, hein? Essa frase virou tipo um mantra do pânico nacional. O último editorial do Estadão dizia que “quando o PT ganha, o Brasil perde”. Perde o quê, doutor? O medo imaginário de que o pobre vai andar de avião?

— Porque os dados reais, veja bem, dizem outra coisa. Nos governos petistas, teve crescimento, teve Bolsa Família, teve valorização do salário mínimo, teve gente comendo melhor… inclusive ovo de verdade, sem paranoia.

— Mas pra elite editorial, isso é que é assustador. Eles têm medo é de ver o país mudar a própria imagem no espelho. Medo do pobre sorrindo, medo da doméstica na faculdade, medo da favela com wi-fi. Medo da galinha pôr ovo no quintal do Leblon.

— E talvez, doutor, seja isso que une tudo: o medo imaginário. É como o senhor diz — ou quero dizer, pensa, já que o senhor nunca diz nada — o medo imaginário é um mecanismo de defesa. Uma forma de não olhar pro medo real: o medo de perder poder, o medo de ser igual, o medo de ser gente.

— Enfim… acho que tô melhor, viu? Já consigo olhar pro ovo sem suar frio. Inclusive, doutor, que tal a gente encerrar a sessão com uma porção de ovos de codorna?

— Doutor, no meu sonho com o frango gigante…

Garçom, desce uma porção de ovos de codorna e dois chopes!, pediu o psicólogo.

— Ô, doutor… desculpa aí a ausência esses dias, viu? Mandei mensagem, avisei que não ia dar pra vir, mas entendo se o senhor ficou magoado. Faltar à terapia de bar é quase um crime contra a saúde mental etílica.

— Perdi umas três sessões, o que me custou, pelas minhas contas, uns seis chopes, fora o acompanhamento psicológico com espuma cremosa e copo suado. Um prejuízo duplo: pro fígado e pro inconsciente.

— Eu tava gripado, doutor. Mas não uma gripe qualquer. Era uma gripe com sintoma de fim do mundo. Febre, calafrio, tosse… teve um momento que pensei: “É agora. Chegou a gripe aviária.”

— Aí me bateu um pânico que só Freud explica — ou não. Sonhei com uma galinha gigante, do tamanho da torre da TV, voando desengonçada e caindo bem em cima do Congresso Nacional. Um símbolo, né? Do medo e do desejo. O medo de morrer e o desejo de ver o Congresso esmagado por um frango mutante.

— Desde então, não confio mais em ovos, doutor. Tem um na geladeira me olhando torto. A gema parece que pisca pra mim. E não é charme, é ameaça. Eu sei. Mas talvez isso seja só… medo imaginário, né?

— Porque veja: o senhor sabia que os ingleses estão com medo da China e da Rússia? Segundo um tal de Tim Davie, da BBC, essas potências estariam ameaçando a civilização ocidental. Um pânico digno de galinheiro.

— Mas cá entre nós, doutor: se a democracia deles balança por causa de um panda no TikTok, talvez o problema não esteja no panda…

— E tem também os americanos, sempre com medo dos ETs. Já reparou nisso, doutor? Eles vivem em guerra contra o que não conhecem. O medo deles é verde, com olhos grandes e puxados. Se for de Marte ou de Xangai, tanto faz. O importante é ser “diferente”.

— Tem algo profundamente psicanalítico nisso: o medo do Outro. Da castração intergaláctica.

— Mas, voltando pro Brasil, doutor… e o PT, hein? Essa frase virou tipo um mantra do pânico nacional. O último editorial do Estadão dizia que “quando o PT ganha, o Brasil perde”. Perde o quê, doutor? O medo imaginário de que o pobre vai andar de avião?

— Porque os dados reais, veja bem, dizem outra coisa. Nos governos petistas, teve crescimento, teve Bolsa Família, teve valorização do salário mínimo, teve gente comendo melhor… inclusive ovo de verdade, sem paranoia.

— Mas pra elite editorial, isso é que é assustador. Eles têm medo é de ver o país mudar a própria imagem no espelho. Medo do pobre sorrindo, medo da doméstica na faculdade, medo da favela com wi-fi. Medo da galinha pôr ovo no quintal do Leblon.

— E talvez, doutor, seja isso que une tudo: o medo imaginário. É como o senhor diz — ou quero dizer, pensa, já que o senhor nunca diz nada — o medo imaginário é um mecanismo de defesa. Uma forma de não olhar pro medo real: o medo de perder poder, o medo de ser igual, o medo de ser gente.

— Enfim… acho que tô melhor, viu? Já consigo olhar pro ovo sem suar frio. Inclusive, doutor, que tal a gente encerrar a sessão com uma porção de ovos de codorna?

— Doutor, no meu sonho com o frango gigante…

Garçom, desce uma porção de ovos de codorna e dois chopes!, pediu o psicólogo.


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